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Fentanil: a droga que causa milhares de mortes todos os anos nos EUA gera alerta também no RS

Fentanil: a droga que causa milhares de mortes todos os anos nos EUA gera alerta também no RS
12.04.2023 16h22  /  Postado por: Mirele Caldas

Numa casa aparentemente abandonada na área rural de Cariacica, Grande Vitória, agentes do Departamento Especializado em Narcóticos (Denarc) do Espírito Santo depararam, em fevereiro deste ano, com 31 frascos de fentanil. O anestésico tem uso restrito a hospitais, mas nos Estados Unidos a substância, quando usada como entorpecente, tornou-se uma das maiores causadoras de mortes por overdose. No Brasil, a recente localização do medicamento no meio do tráfico gera alerta, inclusive no Rio Grande do Sul.

Cercado por matagal, o imóvel onde foram encontrados os frascos era usado, segundo a Polícia Civil capixaba, como laboratório clandestino de uma facção criminosa que atua em toda a Grande Vitória. No mesmo local, foram apreendidos 130 quilos de maconha e 2,5 mil pinos de cocaína. A suspeita é de que o fentanil seria misturado aos narcóticos.
— Os estudos dizem que ela é cem vezes mais forte que a morfina. Uma droga altamente viciante, que hoje é a que mais causa mortes nos Estados Unidos. É utilizada injetável, pura ou em comprimido. É um opioide, com efeito depressor do sistema nervoso central, que dá uma rápida euforia, logo seguida de relaxamento, com grande poder viciante. O que é o crack para o Brasil é o fentanil para os Estados Unidos — compara o chefe do Denarc do Espírito Santo, delegado Tarcísio Otoni.

Nos Estados Unidos, em 2022 foram apreendidas 4,5 mil toneladas de fentanil em pó e 50,6 milhões de comprimidos. No Brasil, a droga ainda não se disseminou dessa forma, embora existam registros anteriores de apreensão. Em 2019, a Polícia Federal desencadeou a Operação Ampulla para desarticular uma quadrilha que revendia o medicamento para os EUA. No início daquele ano, 2,6 mil ampolas foram apreendidas em Balneário Camboriú, em Santa Catarina. Os frascos eram enviados a partir de Florianópolis para Miami. A substância, segundo a apuração, era desviada da Santa Casa de Misericórdia, de São Paulo.

Em São Paulo, também há registros de apreensão da droga. Segundo a Secretaria da Segurança Pública, o Departamento Estadual de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico (Denarc) apreendeu, de 2020 a 2022, 1.229 frascos de fentanil, totalizando 12.290 ml da substância. Neste ano, houve uma apreensão no dia 8 de fevereiro, em Carapicuíba, resultando na apreensão de 810 gramas. Não foram divulgados detalhes dessa apreensão. O que desperta a atenção no caso do Espírito Santo é sua presença num ambiente de tráfico. A polícia capixaba ainda busca identificar a origem dessa droga apreendida e de que forma ela seria distribuída para os consumidores.

No Rio Grande do Sul, o do Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc) não tem registro, nos últimos anos, de apreensão desse tipo de substância. A Polícia Federal no Estado também informou que até o momento não foram identificadas apreensões em território gaúcho.

Troca de informações

No ano passado, o setor da polícia americana especializado no combate ao narcotráfico, Drug Enforcement Administration (DEA), realizou um evento em El Salvador com a participação de policiais brasileiros. O intuito era justamente alertar as autoridades sobre o risco da disseminação dessa droga, considera epidêmica nos EUA. Diretor do Denarc do RS, o delegado Carlos Wendt, que participou do encontro, afirma que a polícia gaúcha está atenta a esse movimento.

— Eles já tinham essa percepção de que em breve essa droga, que se disseminou nos Estados Unidos, chegaria ao Brasil em maior escala. Se trata de uma droga, um opioide, muito forte. O que já se tinha eram relatos de pessoas da área da saúde que acabavam desviando e usando. Mas estamos monitorando a possível circulação nas ruas. Muitas vezes eles podem colocar em outras drogas ou até em substâncias que não são drogas — alerta o delegado.

O receio com o fentanil é ainda maior devido ao alto risco de que ele possa vir a causar uma overdose. Nos Estados Unidos, segundo dados do Centro de Controle e Prevenção de doenças (CDC), em 2021 foram cerca de 107,5 mil mortes por overdose, sendo 71 mil associadas ao uso do fentanil. No caso da cocaína, por exemplo, foram 24,7 mil óbitos por overdose no mesmo período.

Produção

Como medida de prevenção, para evitar um surto da droga, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no Brasil incluiu na lista de “precursoras de entorpecentes e psicotrópicos” as substâncias usadas na produção da fentanila (nome científico do sedativo). Isso permite, por exemplo, que cargas desses produtos sejam apreendidas, reduzindo a possibilidade de que traficantes possam produzir a droga em laboratórios clandestinos.

— Hoje, cada vez mais, os traficantes estão investindo nas drogas sintéticas, pela facilidade de conseguir as substâncias usadas para a produção em laboratório. No caso da cocaína, por exemplo, depende da coca para ser produzida, que pode ser impactada pela safra, precisa ser transportada. Nas drogas sintéticas há maior facilidade na aquisição desses produtos. No momento em que a Anvisa limita, coloca na lista de produtos controlados, dificulta a atividade desses traficantes — afirma o diretor do Denarc do RS.

Segundo o delegado Wendt, a troca de informações entre as polícias, inclusive a norte-americana, é uma das apostas para tentar conter a proliferação do uso da substância como entorpecente. Já a PF informou que “todas as substâncias classificadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária como proibidas e controladas têm sua prevenção e repressão pela Polícia Federal através de investigações e ações de combate ao tráfico de drogas”.

GZH

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