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Destroços de avião acidentado em 1982 são encontrados na Lagoa dos Patos

Destroços de avião acidentado em 1982 são encontrados na Lagoa dos Patos
06.09.2022 14h24  /  Postado por: Mirele Caldas

Um mistério de quatro décadas, que tem como cenário o Rio Grande do Sul, parece ter chegado ao fim. Pescadores e um velejador encontraram na Lagoa dos Patos, próximo a Viamão, os destroços de uma aeronave, a uma profundidade de 7,5 metros. O exame detalhado das peças indica que se trata de um jato Tiger F-5, pertencente ao Esquadrão Pampa, da Base Aérea de Canoas, que desapareceu em 28 de julho de 1982.

A Força Aérea Brasileira (FAB) ainda não se pronunciou oficialmente, mas pilotos ligados à instituição confirmam que só existe esse caso de avião sumido naquela região e, portanto, consideram esclarecido o episódio.

Fazia muito frio naquela ocasião, mas o tempo estava aberto. O jato de matrícula FAB 4831, pilotado pelo tenente-aviador Edson Chiapetta Macedo, voava em par com outra aeronave idêntica. Ambos decolaram de Canoas em um treino de dogfight — combate aéreo de curto alcance, entre duas aeronaves —, algo rotineiro.

As aeronaves se deslocaram para uma das áreas de treinamento sobre a Lagoa dos Patos e começaram o combate simulado. Em determinado momento, o líder da missão — um capitão — perdeu contato visual com o jato de Chiapetta. Ele tampouco respondeu a chamados por rádio. De imediato foi realizada uma intensa busca, mas o avião desapareceu.

Um dos autores da descoberta dos destroços é o piloto de linha aérea e velejador Cristian Yanzer, 44 anos. Ele diz que se interessa por esse desaparecimento desde quando era criança. Depois, ele conta que soube detalhes do acidente ao frequentar a Base Aérea de Canoas, como piloto. Como também é navegador, ocasionalmente passeia de veleiro pela Lagoa dos Patos e sempre tentou observar se encontrava algum destroço do avião sumido.

No início de agosto ele recebeu telefonema de um amigo, o pescador Josoé Martins, da cidade litorânea de Palmares do Sul.

— Estava pescando tainha e, quando puxei a rede, vieram umas peças metálicas. Logo imaginei que eram do avião desaparecido e mandei as imagens para o Cristian, além da localização aproximada do achado — conta Josoé a GZH.

Os destroços estavam no Pontal Zé Martins das Desertas, situado a cerca de quatro horas de barco de Palmares do Sul e a 20 quilômetros da praia de Itapuã, em Viamão, onde o Guaíba encontra a Lagoa dos Patos.

Cristian, que além de piloto de avião a jato é estudioso de mistérios da aviação, logo deduziu que se tratavam de partes do painel e da fuselagem do caça F-5 desaparecido, pedacinhos que cabiam numa mão. Como não existem nos registros mundiais nenhum outro acidente aeronáutico naquela região da Lagoa dos Patos, o velejador decidiu fazer uma procura, assim que o clima permitisse.

Em 11 de agosto ele fez uma busca com seu veleiro Vikyng, equipado com um sonar de varredura lateral. Reflexos metálicos visíveis na tela do equipamento indicavam muitas peças, algumas grandes, espalhadas a cerca de 100 metros do local onde as redes de Josoé tinham sido colocadas.

Com ajuda de redes, Cristian resgatou alguns objetos metálicos e avisou a FAB. Dias depois, em 1º de setembro, ele e sua esposa Andrea reiniciaram o que batizaram de Missão Tigre na Lagoa (em homenagem ao avião, um Tiger). Retornaram ao local dos destroços e encontraram o maior pedaço do F-5 desaparecido: uma parte do pós-combustor de um dos motores General-Electric J85-GE-21, usados nesse modelo de jato.

— Ao parar no local para preparar o almoço, senti que a âncora havia prendido em algo. Quando começamos a puxar, para nossa surpresa, surgiu esta peça de cerca de 90 centímetros de comprimento e mais de 100 quilos de peso. Ela deu muito trabalho para amarrar ao barco, que é pequeno para esse tipo de esforço — descreve Cristian.

Era um pedaço de turbina. Agora, a Marinha e a FAB se uniram às buscas por mais destroços, para tentar fechar o quebra-cabeças do acidente. Um dos desafios é recuperar os restos mortais do aviador.

Causa do acidente

Desde a época do desaparecimento, a suposição dos investigadores era de que o piloto do jato FAB 4831, tenente Chiapetta, tenha sofrido uma desorientação espacial, porque voava invertido (de cabeça para baixo) e pode ter confundido o céu com a água. O dia estava aberto e a superfície da Lagoa dos Patos espelhava o céu, de tal forma que ambos estavam azuis.

Muitos acidentes são causados por esse tipo de fenômeno, chamado no jargão aeronáutico de Controlled Flight Into Terrain (CFIT, ou Voo Controlado contra o Terreno). Usualmente, ocorre quando o piloto desconhece o terreno ou perde a noção de espaço, num voo visual.

O Tiger F-5 que desapareceu na ocasião era um modelo dos anos 1960, de uma época anterior ao GPS, ainda com instrumentos analógicos, menos precisos que os atuais. Mas estudiosos do tema consideram que a causa do acidente não está relacionada à obsolescência do equipamento e, sim, confusão do piloto numa manobra brusca.

— Nesses 40 anos muitas histórias correram sobre a FAB ter encontrado o avião e mantido sigilo. Tudo indica que, ao ultrapassar o outro jato no combate simulado, o piloto foi ofuscado pelo sol e perdeu o horizonte. Estava em altíssima velocidade e possivelmente confundiu céu e água, mergulhando como uma cunha na lagoa — ilustra Nelson Düring, editor do site defesanet.com.br, especializado em assuntos militares.

A reportagem busca posicionamento oficial da FAB, mas ainda não obteve retorno. Informalmente, militares dão como esclarecido o mistério do jato FAB 4831. O velejador Cristian avisou a família do piloto Chiapetta sobre a descoberta dos destroços.

GZH

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