O que você escolhe: furar o isolamento ou a realidade?
Em tempos de isolamento social, temos a cada dia novos desafios. Nossa percepção da realidade vem se modificando e se edificando em novas alternativas. A história tem sido narrada a partir de várias nuances e os jogos são exemplos de narrativas capazes de tirar o jogador do isolamento, propondo interações, descobertas e boas histórias. Nesse universo criativo, os jogadores deixam de ficar trancados e isolados em suas casas, imergindo em aventuras de diferentes temas, diferentes épocas, diferentes cenários.
Passemos a pensar no jogo como uma forma de linguagem, que aprimora a comunicação, despertando um efeito significativo na construção da identidade do jogador. Esse processo de criação identitária, reflete também na maneira como o jogador interage a partir da escolha do jogo. Além disso, um jogo deve ser considerado um aparato para a leitura e o seu jogador reconhecido com um leitor.
Por ser uma possibilidade de leitura, a prática do jogo tenciona a imaginação, a partir de uma ação interativa, que apresenta um efeito de flexibilidade e criatividade, além das múltiplas viabilidades em relação às várias narrativas que podem ser produzidas. Caracterizando-se assim como um aparato de interação que facilita a compreensão de procedimentos artísticos, interferindo na interpretação.
Essas considerações nos possibilitam construir algumas perguntas decisivas nesse momento: seriam os jogos, os facilitadores de novas formas de despertar interpretação? Passariam os jogadores a conhecer e experimentar o mundo físico com os mesmos critérios subjetivos que usam para definir suas escolhas nos consoles? Estaria o isolamento social afirmando que a interação virtual intermediada por jogos pode consolidar novas formas de leitura do mundo? Responder todas essas questões demandaria formas mais específicas de pesquisas quantitativas e qualitativas, mas esse não é o objetivo desse texto.
Talvez o simples fato de que algumas perguntas possam ser feitas apenas a partir do isolamento social, seja um importante elemento revelador acerca da realidade. Os jogos, escolhidos como protagonistas dessa pauta, aparecem nos centros das discussões relacionadas ao isolamento e as formas encontradas para manter a sanidade. Aspectos positivos como conseguir abstrair o indivíduo das duras limitações de interação social que o momento exige, tem sido levantado nas discussões acadêmicas e numa percepção estratégica do mercado cultural. Sem dúvidas, essa percepção tem sido apropriada pelos diferentes setores de produção audiovisual visto que muitas séries, em serviços de streaming, têm adaptado jogos e proposto modelos mais interativos em suas narrativas.
Na leitura desses jogos que moram nossas inquietações, pois ainda que estes produtos culturais possam ser importantes ferramentas na percepção de diferentes leituras, os jogadores assumem uma posição consciente frente a isso? Da mesma forma que poderíamos indagar se um leitor, assume uma postura de consciência em relação ao livro que tem em mãos: ele investiga a vida e as motivações do autor? Percebe os detalhes da editoração? Pensando objetivamente: este leitor vai além das percepções que compõe determinada estrutura narrativa e usa a leitura do livro com um aprendizado na leitura de mundo, ou vê seu processo de leitura como uma desejada abstração da realidade?
Esse texto é resultado de um esforço para contextualizar as formas perceptíveis de enfrentamento da realidade, por uma camada da população que não está necessariamente preocupada com os efeitos que ameaçam a essência da vida, mas encaram outras preocupações e fazem o uso de jogos digitais, nesse momento. Trata os efeitos benéficos da articulação de jogos digitais como suposições, nos permitindo fazer certos questionamentos podem ser importantes numa escolha para ler o mundo nas condições atuais, funcionando como um decisivo caminho para pensar no aprimoramento das dúvidas. Quem sabe assim consigamos analisar concretamente o ser humano naquilo que ele produz, considerando como este significa e ressignifica suas próprias criações.
Confira a reportagem de Adriano Lima com Eduardo Santana Valli é mestrando em Sociologia, professor da área Linguagens e Sociedade, Letras e História da Escola Superior de Educação do Centro Universitário Internacional Uninter.