Abertura de empresas no RS volta a superar fechamento, desde janeiro
Pela primeira vez desde 2015, o Rio Grande do Sul tem mais empresas abertas do que fechadas nos primeiros oito meses de um ano, levando em consideração somente as sociedades anônimas (SA), sociedades limitadas (Ltda) e cooperativas.
De janeiro a agosto de 2019, segundo a Junta Comercial, Industrial e de Serviços do Estado (Jucis-RS), foram constituídos 9,5 mil e extintos 8,2 mil negócios nas três modalidades responsáveis por liderar a geração de empregos. Com isso, o período contou com saldo de 1,3 mil novas companhias neste ano, sendo 98% delas do tipo limitada.
O vice-presidente da Jucis-RS, Sauro Martinelli, vê o resultado positivo como um reflexo do fim da recessão vivida recentemente, entre 2015 e 2016, e o início da retomada, mesmo que lenta, da economia brasileira. Após atingir sua mínima histórica em 2016, a criação de empresas limitadas vem subindo gradativamente no Rio Grande do Sul.
Por outro lado, a extinção de negócios deste tipo atingiu o ápice em 2018, mas voltou a diminuir de ritmo neste ano. No caso das SA e de cooperativas, a quantidade de aberturas superou a de encerramentos em todos os anos ao longo da última década.
– A redução nas extinções mostra que as empresas estão conseguindo permanecer abertas por mais tempo. Isso é um ótimo sinal – diz Martinelli.
A Calçados São Francisco, de São Francisco de Paula, na Serra, é um dos novos negócios surgidos em 2019. A fabricante de sapatos, sapatilhas e sandálias femininas começou as atividades em agosto. O local escolhido para montar a unidade foi o mesmo onde, no ano passado, outra calçadista, a Di Cristalli, fechou as portas, deixando cerca de 400 pessoas desempregadas no município.
– Investimos na criação da empresa porque aqui já havia uma mão de obra treinada, com vocação para fazer calçados femininos. Nossa ideia é nos tornarmos o maior empregador da cidade no ano que vem – explica Auri da Costa, proprietário da Calçados São Francisco.
A empresa surgiu com 45 funcionários e deve chegar a cem até dezembro. Para 2020, o plano é alcançar a marca de 450 empregados e inaugurar uma unidade de fabricação de solados. Com isso, a capacidade de produção deve atingir 1,5 milhão de pares por ano.
A conjuntura não é o único fator que explica o primeiro saldo positivo do Estado na geração de empresas em quatro anos. Economista-chefe da Federação do Comércio de Bens e Serviços do Rio Grande do Sul (Fecomércio-RS), Patrícia Palermo lembra que, a partir de 2015, houve redução de burocracia nos procedimentos de aberturas e fechamentos.
Hoje, já é possível encaminhar os processos na Junta Comercial pela internet. Por conta disso, muitos estabelecimentos inativos só tiveram as baixas confirmadas há pouco tempo, engrossando as estatísticas. Patrícia ainda reforça que muitas pessoas que ficaram desempregadas durante a crise decidiram apostar na criação de empresas, algo que também acaba se refletindo nas movimentações realizadas na Jucis-RS.
– A mão de obra abundante e o crédito mais facilitado, pela taxa de juros mais baixa do que nos anos passados, contribuem para um universo mais favorável à abertura do que ao fechamento de empresas – avalia Patrícia.
Professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), Joelson Sampaio constata que, desde o surgimento do Microempreendedor Individual (MEI), em 2009, a criação de sociedades limitadas apresentava uma tendência natural de queda de patamar.
No entanto, com a leve melhora dos indicadores econômicos, o surgimento das empresas do tipo limitada e outras companhias de maior porte ganha novo impulso, mas ainda longe de voltar ao seu momento de auge.
– A tendência é continuar melhorando (o saldo de geração de empresas), mas se a economia patinar por muito mais tempo, isso pode não se sustentar – pondera.
Indústria ainda sob impacto
Apesar do momento positivo pelo qual o Estado passa nos movimentos de criação e extinção de empresas, há segmentos que convivem de forma mais assídua com o fantasma do fechamento de negócios. Um dos mais afetados é a indústria.
Segundo a Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), com base nos dados da Relação Anual de Informações Sociais, o Estado tinha 52,2 mil estabelecimentos industriais ativos em 2014, antes da recessão. Em 2017, no último dado disponibilizado pelo governo federal, o número havia caído para 46 mil.
O economista-chefe da Fiergs, André Nunes, estima que em 2018 a curva descendente continuou. Neste ano, a tendência é de que a abertura empate ou até supere por uma pequena margem a quantidade de fechamentos.
A faceta mais visível do cenário de instabilidade está nas grandes marcas, mas são as pequenas e médias companhias que acabam puxando a fila dos fechamentos, em especial as calçadistas, metalúrgicas e fabricantes de máquinas e equipamentos.
– Isso ocorre pelo perfil da crise, muito aprofundada, e com recuperação lenta – diz Nunes.
No setor calçadista, além da fraca demanda interna, a guerra fiscal é considerada pelo presidente-executivo da Abicalçados, Haroldo Ferreira, outro elemento que pesou para que houvesse mais fechamentos do que inaugurações de negócios no segmento nos últimos anos no Estado.
– Nosso sentimento é de que a queda no número de empresas tenha se estancado neste ano.
O pior momento passou, o que não quer dizer que não tenhamos de estar atentos aos movimentos que ocorrem no Brasil e no Exterior – salienta Ferreira.