Seis alternativas para tentar combater ataques a bancos no RS
Uso de explosivos para atacar terminais de autoatendimento, criminosos fortemente armados e formação de escudos humanos. Situações como essas foram registradas mais de 1,9 mil vezes em 10 anos no RS segundo levantamento de GaúchaZH, publicado no final de semana. Os ataques contabilizados incluem desde arrombamentos até casos nos quais cidades foram sitiadas.
Em 300 episódios, os criminosos usaram explosivos. O problema preocupa funcionários das agências e moradores, especialmente de municípios pequenos, alvo preferencial dos ladrões. Dos 331 locais com população inferior a 10 mil habitantes, 197 já foram atacadas, o que representa 60%. Destes locais, Nova Pádua, na Serra, com população de 2,5 mil pessoas, é o que mais esteve na mira dos criminosos: foram 12 vezes.
Para encontrar soluções para esses crimes, GaúchaZH ouviu autoridades, sindicalistas e especialistas em segurança.
Distribuição de novos policiais
O governo do Estado pretende distribuir os policiais que estão em curso de formação nas cidades consideradas alvo de assaltantes de bancos. São 2 mil novos soldados da Brigada Militar e outros 400 agentes da Polícia Civil. Segundo o vice-governador e secretário da Segurança Pública, Ranolfo Vieira Junior, a pretensão é ter pelo menos cinco PMs em cada município. No caso dos agentes da Polícia Civil, será levado em conta na distribuição o déficit de efetivo em delegacias que investigam casos de lavagem de dinheiro.
— Só se desmantela uma quadrilha quando se descapitaliza. Só prender não é o suficiente. Pessoas são facilmente substituídas. No lugar do João, entrará o Pedro, fazendo a mesma coisa. Isso só cessa quando se descapitaliza, quando se toca no bolso da organização criminosa — salienta Ranolfo.
Trabalho integrado entre as polícias
Para o titular da Delegacia de Roubos, João Paulo de Abreu, a solução para reduzir os ataques a bancos é trabalhar de maneira integrada com a Brigada Militar e estreitar a relação com o Instituto-Geral de Perícias.
— O IGP é extremamente importante na produção de provas de forma qualificada, eficaz e rápida — salienta.
Abreu reforça que, nos últimos meses, houve a prisão de criminosos com participação importante em assaltos, o que, segundo ele, se refletiu na queda desse tipo de crime. Desde 2015, o Estado tem registrado diminuição no número de ataques a bancos.
— Em fevereiro, a gente efetuou a prisão de um indivíduo no Jardim Carvalho (zona norte da Capital). Essa pessoa, para nós, seria o responsável pela construção das cargas de explosivos, pela inserção nos terminais de autoatendimento e, por vezes, nos cofres — salienta o delegado.
Recomposição de efetivos no Interior
O deputado estadual e presidente da Comissão de Segurança e Serviços Públicos da Assembleia Legislativa, Jeferson Fernandes (PT), cita a transferência de PMs dos pequenos municípios para a Capital e a remoção de presos para o Interior como fatores que impactam o número de crimes como esses.
— Os presos se antenaram de que era mais fácil abordar agências do Interior e isso se tornou algo incontrolável — salienta o parlamentar.
Para Fernandes, a solução para conter os ataques é aumentar o efetivo da BM e da Susepe no Interior.
— Vamos ter, nos próximos dias, mais uma audiência pública para falar do tema das prisões. Estamos chamando deputados e o governo Estadual para mostrar o quanto a diminuição do efetivo da Susepe está levando as penitenciárias ao domínio das facções — observa.
continuidade da Operação Diamante
Organizada de forma secreta pela Brigada Militar, a Operação Diamante deve ter continuidade. A ação consiste em distribuir policiais militares por pontos do Rio Grande do Sul com maiores chances de serem atacados por ladrões de banco. Os locais são escolhidos a partir de levantamento do setor de inteligência da corporação. A intenção é chegar antes dos criminosos e frustrar as ofensivas. Helicópteros da BM ficam espalhados por cidades para pronto-emprego. Além disso, o Batalhão de Operações Policiais Especiais e o Batalhão de Polícia de Choque — considerada a tropa de elite da polícia — também ficam a postos.
— Primeiro, o foco é na prevenção. Se não lograrmos êxito, temos de dar resposta rápida —diz o comandante da BM, coronel Mário Yukio Ikeda.
Lei rigorosa sobre normas de segurança
Uma das alternativas para conter ataques é ter legislação mais rigorosa, avalia o presidente do Sindicato dos Bancários, Everton Gimenis. Em janeiro de 2018, entrou em vigor uma lei estadual para estabelecer normas de segurança para os bancos, criticada pelo sindicalista pela falta de obrigatoriedade de itens nas unidades bancárias e por não estabelecer multa ou quem fiscalize.
— Essa lei não tem eficácia, não diz quem vai fiscalizar. É lei para inglês ver — reclama.
Segundo Gimenis, nos locais onde a legislação municipal é branda, as agências não contam nem com portas giratórias e nem com câmeras de vigilância.
Em nota, a Federação Brasileira dos Bancos disse que as instituições têm adotado medidas preventivas, como a instalação de cofres com dispositivo de tempo e a redução no volume de dinheiro.
Ações preventivas e de inteligência
Para a professora Rochelle Fachineto, coordenadora do grupo de pesquisa Violência e Cidadania da UFRGS, é preciso investir em ações preventivas.
— Isso significa investigação qualificada, inteligência e ações integradas em diferentes agências da Segurança Pública, que possam prever e entender como funcionam antes de os fatos acontecerem.
Levantar informações sobre os grupos criminosos ajuda a entender as formas de atuação:
— Como o armamento pesado chega para os grupos? O que é feito com o volume de dinheiro que é subtraído? Essas questões precisam ser respondidas.
Para o sociólogo Rodrigo Ghiringhelli de Azevedo, professor da PUCRS, é necessário monitorar os grupos por meio da inteligência da polícia. Para o estudioso, as investigações policiais podem rastrear por que e como está ocorrendo o acesso a explosivos.
Fonte e foto: Gaúcha ZH