O monitoramento de aves na Estação Ecológica do Taim foi intensificado a partir da confirmação de um foco de gripe aviária — o primeiro em solo gaúcho — no começo da semana. Já foram 63 aves encontradas mortas na parte norte da Lagoa Mangueira, no território de Santa Vitória do Palmar, no sul do Estado.
As buscas, que mobilizam viaturas, embarcações e drone, já chegam a um raio de 25 quilômetros e incluem propriedades rurais adjacentes. Por enquanto, não há registro de novos focos.
A confirmação dos casos no começo da semana trouxe preocupação aos moradores locais. Não há granjas de aves com foco comercial na região, mas boa parte dos produtores possui animais para subsistência.
É o caso de Acelino Rodrigues Lacerda, 47 anos, funcionário de uma propriedade rural e morador da região da Lagoa da Palha. Ele recebeu a visita de uma equipe da Secretaria Estadual da Agricultura na manhã desta quarta-feira (31). Lacerda cria cerca de 30 galinhas no pátio de casa e foi orientado a cercar uma área para as aves.
— Gera uma preocupação. Estamos bem perto dos focos. Mas nunca vejo essas aves silvestres por aqui. Elas costumam ficar mais na lagoa mesmo — relata o agricultor.
Já Ronaldo Pereira de Ávila, 54, tem residência a cerca de cem metros da reserva, na localidade de Curral Alto. O produtor rural também cria galinhas para consumo da família e redobrou a vigilância desde que soube dos casos de gripe pela televisão.
— É uma coisa nova. Mas nos tranquilizamos ao saber que o risco maior é realmente para as aves. Só ficamos preocupados no futuro, pode trazer prejuízos para a região. Não se sabe o que vai acontecer — conta.
A RESERVA
O trabalho de vigilância é feito por 25 servidores da Secretaria da Agricultura, com o apoio da Polícia Ambiental (Patram) e de funcionários do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). A mobilização teve início na quarta-feira da semana passada, quando as primeiras aves foram encontradas mortas no Taim.
Inicialmente, o monitoramento foi concentrado em um raio de 10 quilômetros, o que inclui cerca de 90 propriedades rurais. Todas foram visitadas pela vigilância nos últimos dias.
— Não encontramos nenhum sinal de doença nas aves domésticas. A partir de agora, ampliamos o trabalho de avistamento de novas aves silvestres na Lagoa Mangueira e outros espelhos d’água da região para verificar se há outra coleção de animais silvestres mortos. Se houver, vamos abrir novos raios de vigilância nas propriedades — explica Francisco Paulo Nunes Lopes, fiscal estadual agropecuário e diretor-adjunto do Departamento de Vigilância e Defesa Sanitária Animal.
Na manhã desta quarta, o trabalho foi concentrado na Lagoa Mangueira, ao sul do primeiro foco da doença. A reportagem de GZH acompanhou o trabalho da dupla formada pelo fiscal estadual agropecuário Henrrison Serafini e a técnica agrícola Sônia Mara Lamb.
Da beirada da lagoa, Serafini controlava um drone com câmera em busca de aves mortas ou com comportamento anormal. Sônia utilizava um binóculo para rastrear os animais.
O monitoramento aconteceu a cerca de 25 quilômetros ao sul do foco inicial, e a 75 quilômetros da sede da Estação Ecológica do Taim, às margens da BR-471. Ambos usavam macacões com a identificação da Defesa Agropecuária. A proteção completa, com macacões brancos, máscaras e luvas, é usada apenas pelas equipes que entram diretamente em contato com aves suspeitas.
— Tentamos identificar o maior número possível de aves. Se estão em bandos, se há alguma ave isolada, se o voo é normal ou não. Em caso de qualquer alteração, chamamos uma equipe de apoio por água ou por terra — explica Serafini.
Outras duas equipes, com apoio da Patram, navegam pela lagoa em embarcações. Das 63 aves mortas, 62 são da espécie cisne-de-pescoço-preto, ave símbolo do município de Rio Grande. Entretanto, todas as aves mortas são consideradas apenas um foco da doença, já que os exemplares foram localizados em uma mesma região da lagoa. Mesmo assim, o monitoramento se aplica a qualquer espécie de ave presente na região. Nesta manhã, foram identificados garças, gaivotas e colhereiros, por exemplo.
A Estação Ecológica do Taim segue interditada por tempo indeterminado. Podem entrar na reserva apenas pessoas relacionadas ao trabalho de monitoramento.
— Precisamos verificar toda a região. Se houver novos focos, vamos estender por mais tempo. Não encontrando outros focos, vamos começar, aos poucos, a desmobilizar as forças e seguir com a vigilância recorrente, que era algo que vínhamos fazendo desde fevereiro — garante Lopes.
GZH