O número de infecções e mortes por Covid-19 aumentaram significativamente nos últimos dias. A diminuição da proteção natural contra o coronavírus, o surgimento de novas subvariantes e a baixa adesão às doses de reforço são algumas das razões apontadas por especialistas para explicar a nova onda.
“Nós já estamos há um tempo da última onda importante, que foi em janeiro, e isso faz com que os indivíduos infectados depois de quatro a seis meses já tenham uma proteção [natural] reduzida, por conta do tempo decorrido. [Além disso] O número de vacinados com três doses no país é baixo – o indivíduo protegido é aquele que tem três doses – e o surgimento das subvariantes BA.4 e BA.5 [também influenciou]”, explica o infectologista e diretor da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), Renato Kfouri.
No primeiro mês de 2022, o país enfrentou uma disseminação acelerada da variante Ômicron (BA.1) e assistiu a média móvel de casos semanais aumentar para 190 mil. Segundo o Conass (Conselho Nacional de Secretários da Saúde), no início de fevereiro, em um único dia (3), o Brasil registrou 280 mil infectados.
A professora do departamento de microbiologia da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) Jordana Coelho dos Reis complementa dizendo que o surgimento de novas cepas com maior transmissibilidade é responsável pelas ondas de aumento.
“Desde o início da pandemia, vimos picos significativos, aqueles picos, com certeza, estão associados ao surgimento de uma nova variante de interesse, que se torna de preocupação a partir do momento que ela começa a causar quadros mais graves ou infecção”, esclarece a especialista.
Para a professora, no momento, as sublinhagens estão trazendo mais preocupações à saúde pública.
“Todas as nossas vacinas, atualmente, estão obsoletas para conter a infecção pela Ômicron [e suas subvariantes], precisamos que novas vacinas sejam desenvolvidas, mas é muito importante que a gente faça o uso das que já existem, para conseguir ter uma imunidade basal, que nos garanta casos mais leves da Covid-19”, avisa Jordana.
De acordo com dados do vacinômetro do Ministério da Saúde, até a tarde da última sexta-feira (15), 73,69% da população brasileira recebeu as duas doses da vacina, mas apenas 45,7% foram imunizados com a primeira dose de reforço.
As pessoas sem o esquema vacinal completo contribuem para o maior número de infectados, aumento na circulação do vírus e o surgimento de novas subvariantes.
“A gente tem visto um aumento no número de mortes que poderia estar sendo evitado”, alerta Kfouri.
Segundo dados divulgados pelo Ministério da Saúde na quinta-feira (14), o Brasil registrou 65.379 novos casos de Covid-19 e confirmou 297 óbitos pela doença. É a 5º semana consecutiva que o país enfrenta um aumento e ainda há 3.208 mortes em investigação.
O crescimento não acontece apenas em território nacional. De acordo com o último boletim epidemiológico da OMS, o mundo contabilizou, pelo menos, 5,7 milhões de casos de Covid-19 entre os dias 4 e 10 de julho, um aumento de 6% em comparação à semana anterior.
O documento também apontou o Brasil como o quinto país com mais infectados e o segundo com mais óbitos pela doença.
A subvariante da Ômicron, classificada com BA.5, já se tornou dominante nos Estados Unidos e está provocando uma onda de casos no país. Essa cepa é apontada pela OMS como responsável pela alta mundial.
Segundo o jornal norte-americano Washington Post, a dominação se dá pois anticorpos de vacinas e infecções anteriores oferecem proteção limitada contra essa ramificação.
O professor da Scripps Research, que segue de perto as tendências da pandemia, Eric Topol, afirmou ao veículo que é a pior versão do vírus que eles já viram.
No Brasil, dados divulgados pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) mostram que a BA.5 continua ganhando espaço e, em conjunto à subvariante BA.4, já é responsável por 25% dos casos (apenas em junho).
Além do mais, a professora indica que, fora a baixa busca pela vacinação completa e as doses de reforço, as temperaturas mais frias podem influenciar fortemente a continuação do cenário de alta.
“Estamos vendo um número de mortes grande nas regiões urbanizadas, ou seja, indivíduos que têm acesso à saúde, áreas com uma alta cobertura vacinal, mas que são regiões frias num momento de inverno, período propício para aglomerações maiores e para as doenças respiratórias, como a Covid-19 – o vírus tem muito mais conforto e estabilidade no período de frio”, informa a especialista.
As vacinas não impedem a infecção, sendo assim, é necessário revisitar algumas medidas não farmacêuticas utilizadas na pandemia, mas de forma menos intensa.
“Medidas restritivas em excesso, hoje, são incompatíveis, não são tão benéficas porque as pessoas já sofreram muito com o isolamento, mas, por exemplo, evitar aglomerações grandes, como shows e eventos públicos com contingente muito grande de indivíduos, é recomendável”, diz a professora.
Kfouri também ressalta que as novas variantes exigem um reforço dessas medidas, principalmente os grupos mais vulneráveis, como grávidas e imunocomprometidos, que podem desenvolver formas graves da doença mesmo adequadamente vacinados.
Segundo ele, “a tendência é que tenhamos vacinas melhores, mais atuais, que protejam contra variantes da Ômicron.”
Vale ressaltar que o isolamento de quadros positivos da doença é crucial. De acordo com a professora, os indivíduos assintomáticos devem permanecer em casa de sete a dez dias, a depender do protocolo. Já os sintomáticos, no mínimo dez dias e o isolamento só deve acabar com a eliminação total dos sintomas.
“Estamos vendo pessoas infectadas pela Ômicron ainda positivas após 15 dias e sintomáticas, isso é um problema grave, porque essa pessoa, a princípio, voltaria ao trabalho ou às atividades acadêmicas com um potencial transmissor”, adverte a professora.
“A população deve manter distanciamento e medidas profiláticas sempre que possível”, conclui Jordana Coelho.
R7