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Crise hídrica atinge a Europa

Crise hídrica atinge a Europa
07.07.2022 16h22  /  Postado por: Tânia Diehl

Consumo de água excessivo para chuva escassa, as fontes de água potável secam. Cada vez mais habitantes da Europa sentem as consequências das ondas de calor mais extremas, secas prolongadas e consumo excessivo de água, sobretudo no Sul, tudo isso agravado pelas mudanças climáticas causadas pela humanidade.

A região sul do continente europeu atravessa atualmente fortes ondas de calor e meses de seca. De modo a garantir o abastecimento de água para a população, os governantes pedem que se limite o consumo ao estritamente necessário. Em alguns lugares, contudo, isso não basta.

“Uma coisa são as secas; outra é quanta água nós tiramos do sistema”, afirma Nihat Zal, especialista da Agência Ambiental Europeia (EEA). O consumo privado de água é responsável por 9% do total da Europa. A maior parte, 60%, vai para a agricultura.

Itália

A situação é provavelmente mais dramática no norte da Itália, que atravessa sua pior seca em 70 anos. Várias regiões foram colocadas em estado de alerta. Mais de 100 cidades tiveram de ordenar a restrição do consumo de água.

Na última segunda-feira, o governo italiano declarou estado de emergência até o final do ano em cinco regiões. As autoridades planejam disponibilizar 36 milhões de euros (198 milhões de reais) no curto prazo para ajudar a combater a crise hídrica.

Devido aos meses de seca e também porque no inverno quase não nevou, o nível de água dos rios Dora Baltea e Pó – o mais longo da Itália – está oito vezes mais baixo do que o normal. Esses dois rios abastecem uma das principais regiões da agricultura na Europa, que está com 30% de sua produção ameaçada pela seca.

A autoridade hídrica na região nordeste, em torno do rio Sesia, deu ordens para que árvores frutíferas e choupos não sejam mais irrigados. A água economizada deverá ir para as plantações de arroz, que são de grande importância econômica.

O prefeito de Verona proibiu até o fim de agosto a rega de jardins e campos de esporte, assim como lavar carros e pátios e encher piscinas, de modo a garantir o abastecimento de água potável. As plantações de vegetais só podem ser irrigadas à noite.

A cidade de Pisa também adotou o racionamento. A partir de julho, a água potável só pode ser utilizada para fins domésticos e de higiene pessoal. Infrações estão sujeitas a multas de até 500 euros. Em Milão, as fontes decorativas foram desativadas.

O prefeito da localidade de Castesano lida com o problema de um modo menos convencional, proibindo os cabeleireiros de lavarem duas vezes os cabelos dos clientes. Assim, diz, se economizariam milhares de litros por dia. No povoado de 16 mil habitantes há dez salões de beleza.

Portugal

Os portugueses começaram a se preparar já durante o inverno (de dezembro a março) para um ano extremamente seco. No início de 2022, a falta de chuvas e o baixo nível das represas levaram o governo a restringir o uso das usinas hidrelétricas a duas horas por semana. A intenção era garantir abastecimento de água para os 10 milhões de habitantes do país por pelo menos dois anos.

O que era uma suspeita durante o inverno acabou se comprovando mais tarde: no fim de maio, a seca severa atingiu 97% de Portugal.

Devido à combustão de carvão, petróleo e gás, as secas, que costumam ocorrer apenas uma vez a cada dez anos, já se apresentam com quase o dobro da frequência na região do Mediterrâneo. Alguns locais enfrentam as piores estiagens em cerca de mil anos.

A associação para a irrigação da agricultura nas cidades de Silves, Lagoa e Portimão, no sul de Portugal, ativou um plano de emergência obrigando 1.800 fazendas a diminuírem pela metade a irrigação de algumas colheitas.

O ministro do Meio Ambiente e Ação Climática, Duarte Cordeiro, declarou que, mesmo que o país tenha se preparado para a seca, os portugueses terão de conviver com restrições e custos mais altos no futuro. Ele pediu aos empresários que invistam em medidas de economia de água.

Nihat Zal, da Agência Ambiental Europeia, sugere formas diferentes de aumentar a eficiência e reduzir o desperdício de água: “Em média, 25% da água fresca é perdida no trajeto entre a fonte, como os rios, até as áreas industriais”, e aumentar a eficiência da infraestrutura hídrica poderá resultar em enorme economia.

Espanha

Com dois terços de sua área total sob risco de desertificação, a Espanha também atravessa uma forte seca. Solos antes férteis cada vez mais se transformam em areais, especialmente após o segundo inverno mais seco desde 1961, de acordo com a agência meteorológica espanhola.

No norte, 17 localidades foram forçadas a adotar medidas drásticas já em fevereiro. Campelles, na Catalunha, limitou o abastecimento a algumas poucas horas por dia. Para emergências, a prefeitura disponibiliza baldes de água em cinco pontos do vilarejo.

Na cidadezinha de Vacarisses, na província de Barcelona, os poços e as canalizações de água subterrânea estão secos. Atualmente, só se fornece água corrente entre 6h00 e 10h00 e entre 20h00 e 00h00.

A Espanha é a terceira maior fornecedora de produtos agrícolas da União Europeia. No mínimo 70% de toda a água doce do país é usada na agricultura.

“A demanda não para de crescer”, afirma Juan Barea, do Greenpeace espanhol. “Ao contrário, ao invés de propor políticas que economizem água, agimos como se a Espanha tivesse tanta água quanto a Noruega ou a Finlândia. Na realidade, estamos mais no nível da África do Sul.”

Apesar da eficiente irrigação por gotejamento já estar sendo utilizada em larga escala na agricultura, em pelo menos um quinto das terras agrícolas ainda se empregam métodos não sustentáveis.

Para administrar melhor a crise hídrica, é necessário abandonar a estratégia de gestão de crise e racionamento, em troca de uma estratégia de longo prazo, afirma Nihat Zal.

Isso significaria mais eficiência no uso da água, gerenciamento antecipado de riscos e preparação para a próxima crise, e permitiria também “adaptar-se às mudanças climáticas em nível individual, local e de governo – em todos os níveis”.

Apesar da eficiente irrigação por gotejamento já estar sendo utilizada em larga escala na agricultura, em pelo menos um quinto das terras agrícolas ainda se empregam métodos não sustentáveis.

Para administrar melhor a crise hídrica, é necessário abandonar a estratégia de gestão de crise e racionamento, em troca de uma estratégia de longo prazo, afirma Nihat Zal.

Isso significaria mais eficiência no uso da água, gerenciamento antecipado de riscos e preparação para a próxima crise, e permitiria também “adaptar-se às mudanças climáticas em nível individual, local e de governo – em todos os níveis”.

Fonte: Climatempo

 

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