Rabobank: perspectivas para o leite no Brasil
O ano de 2021 foi bastante desafiador para o setor lácteo, com custos altos impactando toda a cadeia e demanda abaixo do esperado. Após um 2020 de bons resultados com demanda crescente, impulsionada principalmente pela forte transferência de renda do governo federal como resposta a pandemia, as margens da indústria foram menores em 2021.
Após um início complicado em 2021 devido à piora expressiva da pandemia nos primeiros meses, o cenário parecia melhorar significativamente a partir de abril com boas notícias macroeconômicas: situação fiscal mais confortável (após a expansão do gasto público) e crescimento econômico surpreendendo positivamente. Porém, as perspectivas positivas foram ficando para trás rapidamente no segundo semestre em razão da inflação persistente, alta das taxas de juros, aumento do risco fiscal e deterioração constante das expectativas econômicas para 2021 e 2022.
A piora das expectativas econômicas e principalmente a forte inflação, que deve levar o IPCA acima de 9% em 2021, enfraqueceu a demanda como um todo, mesmo com as boas notícias com relação ao avanço da vacinação e melhora dos índices da pandemia. A demanda mais fraca significou menor espaço para reajustes dos preços ao consumidor, justo quando os custos aumentavam significativamente para a indústria láctea.
Por um lado, o custo da matéria-prima se manteve alto ao longo de 2021 com a oferta crescendo timidamente, como consequência dos elevados custos de produção no campo. Nos primeiros dez meses do ano, os preços pagos ao produtor foram em média 30% maiores, em comparação ao mesmo período em 2020. Outros custos como combustíveis, embalagens e energia também impactaram as margens da indústria de modo considerável.
A diferença de 2020, quando a indústria conseguiu repassar os preços em várias categorias e manteve as margens em patamares adequados, foi a acentuada perda do poder de compra do consumidor em 2021, impedindo de realizar reajustes significativos nos preços e, assim, piorando as margens da cadeia láctea.
As projeções para 2022 apontam para uma economia estagnada, inflação ainda elevada e grandes incertezas políticas e econômicas em ano eleitoral.
O desempenho econômico esperado não deve ser suficiente para recompor o poder de compra do consumidor e nem para aliviar significativamente o elevado nível de desemprego (hoje, próximo de 13%). Por um lado, parece provável esperar uma continuação do programa de transferência de renda em 2022, o que deve ajudar o consumidor de baixa renda. Porém, a classe média continuará sofrendo os impactos da piora da economia e da perda de poder de compra. Assim, parece provável esperar mais um ano desafiador para a demanda por alimentos em geral.
Para os lácteos, as categorias de maior valor agregado como iogurte, sobremesas lácteas e queijos importados devem sofrer mais do que o leite fluido, leite em pó e queijo muçarela, que serão provavelmente priorizadas pelo consumidor no cenário desafiador esperado para 2022.
Vale a pena sinalizar que um programa de transferência de renda mais robusto poderia trazer um impacto positivo sobre o consumo, principalmente no primeiro semestre do ano. Com relação à oferta de leite no campo, as estimativas são para preços levemente menores para os custos dos grãos, considerando maior oferta nas safras brasileiras. Porém, a volatilidade da taxa de câmbio pode frustrar essas expectativas e manter o custo da ração em níveis elevados ao longo do ano.
Apesar de esperar custos levemente menores, a oferta no campo não deve registrar crescimento muito expressivo, mantendo o ritmo de expansão próximo de 1% ao ano. Mesmo com preços elevados no campo, o produtor de leite está pouco estimulado com margens menores no final de 2021 e, deve iniciar 2022 com capacidade limitada para expandir a produção.
Assim, o preço ao produtor deve se manter em patamares elevados em 2022 com pouco crescimento da oferta e demanda sendo sustentada principalmente por programas de transferência de renda.
O mercado internacional tem surpreendido nas últimas semanas com novas altas de preços, dado que a oferta em algumas regiões vem desapontando e a demanda tem se mantido firme. Em caso de manutenção do cenário de preços internacionais elevados e a taxa de câmbio persistentemente depreciada, devem aparecer oportunidades para aumentar pontualmente as exportações de produtos lácteos.
Portanto, como sempre, as variáveis de preço interno, taxa de câmbio e preço internacional darão o rumo para os próximos capítulos das importações e exportações.
As informações são da Rabobank, adaptadas pela equipe MilkPoint.
FONTE: RABOBANK E MILKOPOINT