Atendimentos represados e queda de arrecadação são desafios da saúde no pós-pandemia
Embora ainda não seja possível dimensionar o volume exato da demanda reprimida ocasionada pela pandemia de Covid-19, alguns diagnósticos permitem mensurar um quadro de alerta. Os indicadores serão discutidos na terceira edição do seminário “O RS PÓS-PANDEMIA”, da Assembleia Legislativa, nesta quinta-feira (24), às 18h, com transmissão pelas redes sociais e YouTube. Reunindo uma série de especialistas, o debate terá como tema “Quando a Covid-19 vai se tornar uma doença comum? Como o sistema de saúde atenderá a demanda reprimida”, e terá o vice-presidente do Conselho Regional de Medicina do RS (Cremers), Eduardo Trindade, como um dos painelistas.
Professor da Faculdade de Medicina da Unisinos e doutor em Medicina pela Ufrgs, Trindade apresenta dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO) para exemplificar esta demanda. Segundo a entidade, o país possui cerca de 200 mil diagnósticos represados de câncer, além de inúmeras cirurgias bariátricas adiadas. “Com medo de contaminação, muitos pacientes deixaram de procurar seus médicos, atrasando os diagnósticos”, explica o médico. No estado, o número de transplantes também caiu em virtude da pandemia. “Os indicadores mostram queda maior no número de transplantes de coração, pulmão, pâncreas e córneas. Houve considerável redução no número de doadores efetivos, com queda de 24% no número de transplantes de órgãos e de 54% nos transplantes de tecidos”, detalha.
Sobre a organização dos sistemas de saúde para o atendimento destes pacientes, Trindade relata o aumento significativo de implicações resultantes da doença – um desafio para a saúde pública e privada. “Além dos procedimentos represados, a Covid-19 costuma deixar sequelas importantes nos sobreviventes. Mesmo depois de curados, eles demandam atendimento e acompanhamento”, esclarece. Pesquisas recentes apontam que a doença provoca acometimentos renais, cardíacos, hepáticos e neurológicos em cerca de 50% dos diagnosticados e pessoas que se curaram teriam risco 59% maior de morrer dentro de seis meses após a infecção.
Paralelo a isso, os impactos econômicos da pandemia pressionam os sistemas de saúde, agravando o cenário. De acordo com a Agência Nacional de Saúde (ANS), até agosto de 2020, os planos privados perderam 327 mil clientes. “A grande maioria desses pacientes vai depender do SUS. Além disso, a crise fiscal ocasionada pela pandemia se reflete na queda da arrecadação dos impostos que sustentam os hospitais públicos e filantrópicos, dificultando a prestação de atendimento”, analisa Trindade.