Ocorrências de desastres relacionados com o clima afetaram diretamente 20.786 pessoas no Rio Grande do Sul em 2020, taxa de 182 por 100 mil habitantes. O número coloca o Estado na nona posição no ranking do país, com uma taxa pouco acima da média nacional, de 178,4 pessoas afetadas a cada 100 mil habitantes. A proporção no RS avançou em relação a 2019 (109,4 a cada 100 mil), mas registrou queda na comparação com o primeiro ano avaliado, 2015, quando chegou a 1.419,4 a cada 100 mil habitantes.
Os dados sobre os impactos negativos causados pelas mudanças climáticas no RS e no Brasil estão em estudo produzido pelo Departamento de Economia e Estatística, vinculado à Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão (DEE/SPGG), divulgado nesta sexta-feira (4/6). O levantamento faz um panorama sobre as metas fixadas pela Organização das Nações Unidas (ONU) no chamado Objetivo do Desenvolvimento Sustentável (ODS) 13 – Ação contra a mudança global do clima.
Reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE), mitigar os efeitos nocivos das mudanças climáticas e fomentar a resiliência das pessoas estão entre os objetivos do ODS 13. O estudo foi produzido a partir dos dados mais recentes e diferentes fontes e abrange o período a partir de 2015.
Para avaliar a evolução do Estado e do Brasil, o ODS 13 é composto por cinco metas, sendo duas delas com análise possível em nível estadual e quatro aplicáveis ao país. A primeira consiste em “ampliar a resiliência e a capacidade adaptativa a riscos e impactos resultantes da mudança do clima e a desastres naturais” e indicou que no Brasil os desastres relacionados à falta de chuva são os mais frequentes, representando 79% do total das ocorrências. No Rio Grande do Sul, ocorre o inverso, com maior predomínio dos desastres relacionados a chuvas intensas, apesar dos registros significativos de ocorrências nos anos de estiagem.
Entre 2015 e 2020, as ocorrências relacionadas ao excesso de chuva foram predominantes no RS em quatro anos (2015, 2016, 2017 e 2019), enquanto em 2020 e 2018 os registros em decorrência de estiagens estiveram no topo da lista. Em 2020, por exemplo, ano de influência do fenômeno La Niña, foram 480 registros de desastres relacionados à seca contra 21 ligados ao excesso de precipitações. Em 2019, ao todo, foram 76 registros, sendo apenas um de estiagem.
“Os desastres relacionados ao excesso de chuvas apresentam um maior número de vítimas diretas, como mortos, feridos, desaparecidos, desalojados ou desabrigados, do que aqueles relacionados à falta de chuva, que, em geral, tenham um impacto maior na economia, especialmente nas atividades agropecuárias, na indústria e na geração de energia”, destaca a pesquisadora do DEE/SPGG e autora do estudo, Mariana Lisboa Pessoa.
Dentro da primeira meta, o ODS 13 avalia ainda a proporção de governos locais que adotam e implementam estratégias de redução de risco de desastres alinhadas com as estratégias nacionais. Em 2017, 49,01% dos municípios gaúchos (244) adotavam pelo menos três instrumentos de gerenciamento de riscos de desastres, enquanto 47,5% do total, ou 236 municípios, não tinham nenhum, o que abrangia 79,1% da população do Estado. No ranking nacional por número de municípios, o Rio Grande do Sul ocupa a sétima posição e, percentualmente, está à frente da média nacional, de 34%.
Gases de efeito estufa
A aceleração no desmatamento na Amazônia foi um dos principais responsáveis pelo aumento de 9,6% nas emissões de GEE no Brasil em 2019 na comparação com o ano anterior e atingiu o maior volume desde o início da série de acompanhamento do ODS, em 2015. Os dados sobre as emissões de GEE no mundo em 2020 ainda não foram publicados, mas a tendência geral, conforme o documento, é de redução em função da diminuição das atividades em virtude da pandemia da Covid-19. Para o Brasil, no entanto, as queimadas devem neutralizar os efeitos benéficos da queda das emissões.
No Rio Grande do Sul, especificamente, as emissões de GEE se mantiveram sem grandes oscilações, chegando a um total de 91,6 milhões de toneladas de CO2eq (equivalente de dióxido de carbono, padrão internacional utilizado para medir a quantidade de gases de efeito estufa) em 2019 ante 91,9 milhões de toneladas de CO2eq em 2015 e 84,8 milhões de toneladas CO2eq. em 2018. No último ano analisado as emissões do RS representavam 4,2% do total do país, o que colocava o RS na sexta posição no ranking brasileiro.
Das emissões do Estado, as atividades agropecuárias eram as responsáveis por 54,8% do volume total (50,2 milhões de toneladas de CO2eq.) em 2019, seguida das emissões relacionadas com energia (24,5%) e mudanças no uso do solo e das florestas (14,4%). Considerando apenas a agropecuária, a chamada fermentação entérica, que é resultante do processo digestivo dos animais, está no topo da lista das emissões (42%), seguida do manejo do solo (35%) e do cultivo do arroz (19%).
A última meta do ODS 13, que fala sobre melhorar a educação, “aumentar a conscientização e a capacidade humana e institucional sobre mudança no clima”, aborda a importância da educação ambiental. De acordo com o documento do DEE/SPGG, o Brasil cumpre as proposições por conta da legislação que garante educação ambiental obrigatória em todos os níveis de ensino.
“O percurso de análise apresentado neste relatório deixa bastante evidente a necessidade premente de ações por parte, especialmente, do poder público, para a efetivação das políticas já existentes de combate às mudanças climáticas e às suas consequências no país”, conclui a pesquisadora.
Alguns dados divulgados no estudo
• Em 2018, apenas 10 países eram responsáveis por 64% do total de emissões de GEE do mundo, sendo o Brasil o sexto colocado.
• A China responde por 25,4% do total das emissões mundiais, seguida dos Estados Unidos, com 12,6%.
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Texto: Vagner Benites/Ascom SPGG
Edição: Marcelo Flach/Secom