Eva Wilma morre aos 87 anos de complicações de um câncer no ovário
A atriz Eva Wilma morreu neste sábado, aos 87 anos, no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, vítima de um câncer no ovário que, disseminado, levou a uma insuficiência respiratória. A artista estava internada desde o dia 15 de abril, inicialmente para tratar problemas cardíacos e renais. O câncer foi descoberto no último dia 7 de maio. A informação foi confirmada pela assessoria de imprensa da artista.
Foi uma bela mistura que produziu Eva Wilma Riefle, atriz que entrou para o imaginário do espectador brasileiro de cinema, teatro e televisão simplesmente como Eva Wilma. Seu pai (Otto Riefe Jr.) era um metalúrgico alemão da região da Floresta Negra que veio para o Brasil, mais exatamente para o Rio de Janeiro, em 1929, aos 19 anos, para trabalhar numa firma de metalurgia. A mãe, Luísa Carp, nasceu em Buenos Aires, filha de judeus ucranianos de Kiev que imigraram para a Argentina. Estava escrito que os dois se conheceriam em São Paulo, e foi onde Eva Wilma nasceu, em 14 de dezembro de 1933.
Apesar das dificuldades familiares – o pai quase foi preso durante a 2ª Grande Guerra e, na sequência, foi diagnosticado com mal de Parkinson –, recebeu educação esmerada, em escolas tradicionais. Teve aulas de canto, piano e violão com a mestra Inezita Barroso. Aos 14 anos, iniciou-se na carreira artística como bailarina clássica. No Corpo de Balé do Teatro Municipal chamou a atenção do diretor José Renato, que a chamou para integrar a primeira turma dso Teatro de Arena. Participou de espetáculos quer fizeram história – Judas em Sábado de Aleluia, Uma Mulher e Três Palhaços.
Diversificou-se, como mulher e atriz, e fez Boeing-Boeing, O Santo Inquérito, A Megera Domada, Black-Out. Os desafios foram ficando maiores – Um Bonde Chamado Desejo, Pulzt, Esperando Godot, dirigiu Os Rapazes da Banda, depois participou de Quando o Coração Floresce, Queridinha Mamãe, pela qual recebeu o primeiro Molière de Melhor Atriz, e O Manifesto.
No cinema, começou como figurante em Uma Pulga na Balança, na Vera Cruz. Logo estava protagonizando filmes ao lado de Procópio Ferreira – O Homem dos Papagaios e A Sogra. Em 1955, ganhou o primeiro prêmio de cinema por O Craque, de José Carlos Burle. No ano seguinte, a cinebiografia de Francisco Alves, Chico Viola não Morreu, valeu-lhe o premio Saci, do Estado. E logo vieram os grandes filmes que pertencem à história – Cidade Ameaçada, de Roberto Farias, e São Paulo S.A., de Luiz Sergio Person.
Em 1953, a TV engatinhava quando Cassiano Gabus Mendes convidou-a para atuar no seriado Namorados de São Paulo, da Tupi, formando dupla com Mário Sérgio. Mudaram o ator e o nome do programa – virou Alô Doçura e Eva Wilma passou a contracenar com John Herbert. Casaram-se, tiveram dois filhos e o programa ficou dez anos no ar, entrando para o Guinness como a série mais longeva da televisão brasileira. Alô Doçura foi um marco. Naquele tempos, anos 1950 e 60, não se falava em sitcom, mas todo mundo seguia o casal da ficção, que virou casal da vida real. Com o fim da Tupi, Eva Wilma foi para a Globo. Mais prêmios, muitos prêmios. Eva Wilma ganhou todos. Molière, Imprensa, APCA, Coruja de Ouro, Governador do Estado, Shell etc.
E não apenas no País. Recebeu uma homenagem em Cuba em 1966 pela atuação em O Amor Tem Cara de Mulher da TV Tupi; outra homenagem pela atuação no filme A Ilha, de Walter Hugo Khouri, no Festival de Berlim; e no Festival de Roma foi destaque pelo júri popular, no filme de Alberto Pieralisi, O Quinto Poder. Em 1969, ocorreu o episódio talvez mais bizarro da trajetória de Eva Wilma. Ela foi convidada para fazer um teste em Hollywood para o que seria o novo suspense do mestre Alfred Hitchcock. O filme era Topázio, uma história de espionagem, e Eva teve tratamento de estrela ao ser testada para o papel da espiã cubana, que, no final, foi interpretado por uma alemã, Karin Dor. A experiência foi importante porque, com outros trabalhos no teatro, mostrou que a doçura estava sendo substituída por uma dimensão mais madura e complexa.
Nem Eva nem Wilma – Simplesmente Vivinha, como no título de um programa em que interpretava a si mesma, em 1975. Vivinha nunca parou de fazer principalmente TV, e novelas, algumas séries. Roda de Fogo, O Direito de Nascer, Plumas e Paetês (explorando sua veia cômica), Ciranda de Pedra, Guerra dos Sexos, Sassaricando, Pedra Sobre Pedra, Anos Rebeldes, Pátria Minha, O Rei do Gado, A Indomada, Os Maias, Fina Estampa, A Grande Família, Verdades Secretas.
Foto; Tarsila Pereira / CP Memória
Fonte: Correio do Povo