Proibição do herbicida paraquat deve impactar agro brasileiro
Um estudo encomendado pelo Instituto Pensar Agro ao MB Agro avalia quais os efeitos imediatos da suspensão do uso do paraquat na agricultura. A análise aponta que, considerando culturas soja, milho, algodão, feijão, café e arroz, a proibição feita pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, em 22 de setembro, pode afetar a viabilização do plantio direto no Brasil.
Segundo o presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), Alceu Moreira (MDB-RS), o defensivo aumenta a produtividade da agricultura, reduz o custo de produção para o produtor rural e preserva o meio ambiente. “Além de cuidar da lavoura, promover um alimento seguro e acessível à toda sociedade, o defensivo agrícola aumenta entre 50% e 85% o teor de matéria orgânica do solo e garante sustentabilidade. Como resultado se obtém redução de erosões, aumento de fertilidade da terra e se evita o assoreamento de rios”, disse.
Segundo a própria entidade parlamentar, o plantio direto é a forma mais natural de cultivar a terra, tornando possível a existência de até três safras por ano na mesma área e com menos prejuízos ao meio ambiente. De acordo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), nessa atividade a semente é colocada no solo em cima dos restos da lavoura anterior. Com a palhada, o terreno fica protegido da erosão e recupera a fertilidade. Atualmente, o sistema já ocupa 32 milhões de hectares: cerca de 70% das lavouras de grãos cultivadas no país.
E é neste tipo de cultura que entra a tecnologia do paraquat, capaz de manter o plantio direto com base no controle de ervas daninhas e na redução do uso de maquinário agrícolas.
O estudo aponta que a proibição do produto pode resultar na redução de R$ 27 bilhões no valor bruto da produção agrícola no país, com perda de 2 milhões de empregos. Além disso, existe a perspectiva de perda de competitividade dos produtos brasileiros a partir do aumento do custo de produção em R$ 407 milhões para o produtor rural.
“A exclusão permite o aumento de preços dos alimentos, com consequente elevação da inflação e risco de desabastecimento alimentar, aumento do número de aplicações de herbicidas e a necessidade de uso de dois ou mais produtos para obter resultado semelhante ao do paraquat, com danos ao solo por inviabilizar o plantio direto,” diz o estudo.
Haverá ainda, conforme o estudo, limitação à utilização de transgênicos tolerantes ao glifosato, como no algodão, no milho e na soja. O banimento do herbicida, segundo o estudo, levará à intensificação do uso de glifosato, acelerando o surgimento de mais e mais plantas daninhas resistentes, além das oito espécies já resistentes no Brasil.
Atraso de safras
Uma das grandes preocupações é a diminuição nas janelas de plantio, j[a que prejuízos à intensidade da agricultura e na produtividade pode acarretar atrasos na velocidade de plantio anuais (soja, algodão, milho), com impacto negativo à produtividade e aumento dos riscos climáticos de culturas como o milho safrinha, por exemplo.
Segundo a Embrapa, isso decorre pelo fato do paraquat ser um defensivo agrícola de ação muito rápida, matando as plantas daninhas em poucos dias (2-5 dias), o que viabiliza plantios mais rápidos dentro das épocas recomendadas.
Quem usa?
Produzido, comercializado e utilizado de forma segura em mais de 88 países, inclusive nos maiores mercados agrícolas competidores sob os sistemas regulatórios mais exigentes como os dos EUA, Canadá, Austrália, Japão e Nova Zelândia, o herbicida promove a continuidade de um processo ambientalmente responsável e de grande ganho para o meio ambiente, para agricultura e para o país. Segundo a FPA, a utilização de Equipamento de Proteção Individual (EPI) na aplicação do produto traz segurança para o alimento e para a saúde humana.
Tentativa de reversão
A proibição da comercialização do produto já foi definida, mas no senado corre um Projeto de Decreto Legislativo de autoria do senador Luis Carlos Heinze (PP-RS), vice-presidente da FPA no Senado, para sustar resolução da Anvisa que veda o uso do herbicida.
Na apresentação da proposta realizada último dia 28, Heinze afirma que com o parecer final da Anvisa, o setor agropecuário depara-se com a possibilidade de perda de uma das “ferramentas mais importantes para o cultivo” de várias das principais culturas, como a soja, cana-de-açúcar, milho, algodão e trigo, responsáveis pela competitividade brasileira no mercado internacional de commodities. A medida aguarda votação em Plenário.
O senador afirma também que a proibição do paraquat vai encarecer os produtos e diminuir a competitividade do agronegócio nacional. Segundo Heinze, o território brasileiro, diferentemente de territórios em regiões de clima temperado, oferece obstáculos maiores para a produção agrícola, com “clima aquecido, chuvas irregulares e ampla variedade de insetos, fungos e plantas daninhas”, que justificaria o uso de herbicidas.
Outro estudo
Um estudo da Escola Superior de Agricultura da Universidade de São Paulo (USP), diz que o paraquat é, sem dúvida, um produto fundamental para a manutenção deste sistema agrícola de sucesso da agricultura do Brasil e notifica em seu estudo que “limitar esta opção é admitir um retrocesso na evolução do sistema agrícola brasileiro que, para manter a posição de liderança, precisa não apenas lançar mão do uso eficiente das tecnologias existentes, como também de inovações tecnológicas para o futuro”.
Riscos à saúde?
A FPA comenta ainda que, de acordo com a Agência de Proteção Ambiental Norte Americana (EPA), não existem evidências que associem o produto com efeitos mutagênicos ou evidências suficientes para concluir que exista uma relação de causa e efeito entre a exposição ao herbicida e doenças em seres humanos.
O deputado Luiz Nishimori (PL-PR) explica que a utilização de paraquat, quando realizada de acordo com as instruções e precauções estabelecidas na regulamentação e descritas na bula do produto, “é segura e não traz riscos de intoxicação ao trabalhador, ao ambiente, ou aos consumidores finais de produtos agrícolas.”
Na Câmara, uma proposta similar ao do Senado tramita para sustar a resolução da Anvisa que veda uso do herbicida no Brasil, o PDL 310/2020. Autor da medida, Nishimori disse que as mudanças na legislação são mais do que necessárias para que o Brasil não sofra com perda de competitividade e a população não pague a conta no aumento do preço dos alimentos.
*Canal Rural