Um setor que acumula frequentes recordes, que faz a diferença na balança comercial brasileira e é um dos pilares da economia nacional. O agronegócio há anos vem mostrando a sua cara, mas, ainda assim, os jovens têm dúvidas sobre permanecer ou não no campo. Afinal, o que o leva a ficar e o que determina a sua saída?
Para entender melhor essas duas questões o Sistema Ocergs-Sescoop/RS tem se debruçado há anos em diferentes estudos sobre o tema, abordado em debate no Canal 1 da Expointer (www.expointer.rs.gov.br) nesta quinta-feira.
A live Jovens impulsionam cooperativas agropecuárias: Programa Aprendiz Cooperativo do Campo, trouxe à tona pesquisas que começaram a ser feitas em 2014 e que, de certa forma, segue sendo alimentada e abastece as estratégias a Ocergs no desafio de compreender melhor os estímulos e os desestímulos para a permanência do jovem no meio rural.
Além dos fatores que tradicionalmente norteiam o tema – como a falta de infraestrutura de comunicação (especialmente internet), carência de alternativas de lazer e o fato de que quase tudo é mais distante – a Ocergs começou a identificar e trabalhar com um novo ponto de vista. Há também um fator sociocultural, muitas vezes com origem dentro de casa, que também “enxota” a nova geração para fora da propriedade, diz José Zigomar dos Santos, gerente de promoção social do Sescoop/RS.
É fato que os jovens querem buscar sua “tribo” e querem ir para a “balada”, diz Santos. Mas há uma cultura dentro de muitas propriedades que também empurra o filho ao meio urbano para, em tese, ter uma vida melhor. “Há uma frase comum que os produtores dizem aos filhos: ‘vai estudar para não sofrer igual a nós’. Assim, essa gurizada que nasceu no meio rural se cria em um ambiente que os coloca para fora da propriedade, para ter faculdade e uma vida que seria melhor”, explica o Santos.
Outro fator correlato, e ainda pouco considerado, diz o administrador e professor, é que os pais acabam priorizando a saída das meninas para estudar na cidade – já que os homens seriam mais necessários na lida do campo. Com esse ambiente excessivamente masculinizado, as possibilidade de um “matinê” na comunidade e um futuro romance diminuíram muito, aponta Santos.
Soma-se a isso um conceito que até hoje pode soar moderno, mas já é antiquado como ferramenta de trabalho para evitar o êxodo dos jovens do campo, alerta Santos. “Sucessão rural pressupõe um assumir o lugar do outro e não uma convivência das gerações. É o fim de um e o começo do outro. Temos que trabalhar a continuidade, e não a sucessão”, defende o gerente de promoção social do Sescoop/RS.
Esse continuidade e convivência dependem, e muito, dos pais, explica Santos. O jovem que está na lida precisa ter uma renda definida (que pode ser um percentual dos lucros da propriedade) e compartilhamento nas decisões familiares. Ou seja, é preciso pensar sua vida econômica e a participação desde cedo nas decisões do negócio. Afinal, ele também se dedica todos os dias às atividades rurais – o que precisa ser reconhecido e recompensado.
“O jovem tem de ser visto com um sócio no negócio familiar. No programa do Sescoop, Jovem Aprendiz Rural, a pedagogia que adotamos também trabalha os pais. Propomos estimular a permanência do jovem do campo. Não a sucessão, mas a convivência e a continuidade”,
*Jornal do Comércio