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Roubos de carga no RS caem 7,3% em 2019 e se concentram dentro de municípios

Nos primeiros 11 meses de 2019, houve redução de 7,3% nos ataques a transportadoras de cargas no Rio Grande do Sul, em comparação com o mesmo período de 2018. Mesmo assim, dados divulgados pela Polícia Civil mostram que, em 2019, aconteceu, em média, um assalto a cada oito horas, totalizando 1.037 registros. Em 2018, também até novembro, foram 1.119 ocorrências. Apesar da queda, outro fato preocupa as autoridades nos últimos anos: o perfil dos alvos. Os ladrões têm optado por roubar pequenas entregas dentro dos municípios, especialmente da Região Metropolitana, em vez de grandes cargas nas rodovias.

Os ataques dentro das cidades representam mais do que o dobro dos casos em estradas neste ano. Foram 723 ocorrências, contra 314 registros nas rodovias. O total de crimes dentro dos municípios é próximo ao registrado no período em 2018, quando houve 709 fatos. Cigarro é a carga mais procurada, e Porto Alegre concentra 13,9% do total de roubos.

O delegado Alexandre Fleck, da Delegacia de Roubo de Cargas do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), afirma que três fatores ajudam a explicar a mudança no perfil dos alvos dos ataques: o serviço rotineiro, com rotas conhecidas, segurança inferior a de grandes transportadoras e a facilidade para os criminosos fazerem a abordagem. A investigação verificou que geralmente as ações têm um ladrão ou, no máximo, três. Eles atuam de forma esporádica e conforme a ocasião. Na maioria dos registros, de acordo com o delegado, os roubos não são cometidos por quadrilhas organizadas.

— Agem esporadicamente e atacam furgões, caminhonetes, no máximo pequenas vans, que transportam cargas de menor porte, atendendo regiões afastadas das cidades, principalmente pequenos comércios. Muitas vezes, são os mesmos que acabam comprando ilegalmente estas mercadorias roubadas — diz Fleck.

Devido a essa mudança de local dos ataques e de tipo de carga levada, o delegado diz que a estratégia de combate aos ladrões foi alterada no ano passado. Segundo ele, a atuação tem se concentrado especialmente nas cidades, em parceria com a Brigada Militar, para monitoramento do transporte de pequenas cargas em caminhonetes e furgões. Este trabalho ocorre há, pelo menos, cinco meses. O policiamento em conjunto é maior com o Comando Metropolitano da BM, já que os casos acontecem com maior frequência na Região Metropolitana. O delegado diz que também foi feita parceria com setores que atuam na segurança de indústrias de cigarros, que é o tipo de carga mais visado pelos criminosos.

Entre os 1.037 ataques registrados nos primeiros 11 meses de 2019, há casos nos quais a carga era o alvo dos ladrões, mas há também situações nas quais os criminosos queriam roubar os veículos ou até mesmo assaltar o motorista. Conforme o delegado, em 200 casos as cargas levadas eram de cigarros, número que corresponde a 19,3% do total. Os outros produtos mais visados são valores — o dinheiro arrecadado após a entrega da mercadoria — e bebidas.

A Capital concentrou a maioria dos roubos. Foram 145 casos. Além de Porto Alegre, Alvorada Viamão, ambos na Região Metropolitana, foram os municípios que mais tiveram ocorrências.

Se, por um lado, os roubos dentro das cidades têm apresentado aumento, os ataques a cargas em rodovias diminuíram. A Polícia Civil registrou 314 casos em que caminhoneiros foram alvo entre janeiro e novembro de 2019. Um total de 23,4% a menos do que no mesmo período do ano passado, quando foram contabilizados 410 crimes.

Diferentemente do que acontece nas cidades, Fleck diz que as ações nas rodovias são de grupos organizados, que possuem entre cinco e 10 integrantes. Para combater estes ataques, a Polícia Civil afirma que tem realizado trabalho de investigação para a identificação de criminosos. Conforme o delegado, vários destes criminosos têm antecedentes e utilizam armamento pesado. Em 2019, o policial afirma que prendeu, até o início de dezembro, 96 ladrões de cargas. No mesmo período do ano passado, haviam sido 110 detenções.

Receptação motiva crimes

Comandante-geral da Brigada Militar (BM), coronel Rodrigo Mohr Picon afirma que reuniões mensais com entidades de transportadoras, empresas de segurança privada e órgãos de segurança são realizadas para traçar estratégias na tentativa de evitar ataques a cargas.

— Trabalhamos com inteligência e levantamento de dados.

O crime está sempre se reorganizando. O importante é que estamos sempre mobilizados, levantando informações e vídeos para identificar criminosos. O comandante-geral destaca que este tipo de ação acontece porque há quem compre os produtos roubados:

— Só existe este crime porque há receptação. Tem gente que acaba vendo alguma vantagem em comprar esse produto.

O coordenador da comissão de combate ao roubo de cargas da Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logística do RS (Setcergs), João Carlos Trindade, também citou a receptação, salientando que ninguém rouba carga de qualquer mercadoria se já não houver para quem repassar o produto.

— Se ocorre o roubo, é porque tem colocação no mercado — disse.

Conforme Trindade, o setor entende que as ocorrências se estabilizaram entre 2018 e 2019:

— É muito importante o trabalho da BM, da Polícia Civil e da PRF, que são sintonizados e são incansáveis no seu trabalho para prender essas quadrilhas.

Colaborou: Jeniffer Gularte

Fonte e foto: Gaúcha ZH

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