Nova gestão coloca privatizações no centro da pauta da Petrobras
O entusiasmo do mercado financeiro com o nome de Roberto Castello Branco para a presidência da Petrobras no futuro governo foi potencializado horas depois do anúncio, por uma declaração de Jair Bolsonaro (PSL). Ao comentar o anúncio, o presidente eleito confirmou que parte da estatal poderá ser vendida à iniciativa privada.
— Alguma coisa você pode privatizar. Não toda. É uma empresa estratégica e estamos conversando sobre isso aí — disse, em rápida entrevista nesta segunda-feira (19).
Bolsonaro foi questionado sobre posicionamentos de Castello Branco, que defendeu a venda total da empresa em artigo publicado em junho pela Folha de S.Paulo. No texto, comentou o impacto da greve dos caminhoneiros na economia e afirmou que, além da petrolífera, outras estatais deveriam ser privatizadas.
Com forte viés liberal, o futuro presidente da Petrobras é contrário à interferência do governo nos preços dos combustíveis e entende que a petrolífera deve se focar somente em atividades que tem competência para fazer. O controle dos preços foi adotado por Dilma Rousseff para segurar a inflação, e por Michel Temer para encerrar o movimento do setor logístico, em maio, gerando impacto nos cofres da empresa.
Sobre o tema, Bolsonaro atribuiu parte do valor dos combustíveis aos governadores, que elevam alíquotas de ICMS sobre o produto. Disse que vai tratar o assunto com bom senso.
Escolhido por Paulo Guedes, que tem carta branca de Bolsonaro para compor o futuro Ministério da Economia, Castello Branco foi contido em suas primeiras manifestações. Afirmou que não haverá “nenhuma guinada espetacular” na companhia, mantendo discurso afinado com o futuro chefe do Executivo.
— A privatização da companhia não está em questão. Não tenho mandato para pensar nisso — sentenciou em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo.
Risco de embates no governo entre as turmas liberal e nacionalista
Ainda assim, defende a venda de partes da estatal. Entre as que poderão ser negociadas, estão BR Distribuidora e refinarias. Castello Branco critica o fato de a Petrobras deter cerca de 98% do refino de petróleo no país. Afirma, ainda, que pretende reforçar os investimentos na exploração e produção nas áreas do pré-sal.
A escolha foi saudada por analistas. Professor aposentado da Universidade de Brasília, o economista Newton Marques diz que o mercado espera que o futuro presidente da Petrobras conduza a estatal sem interferências políticas. Mas ressalta que podem acontecer embates entre as turmas liberal e nacionalista, liderada pelos militares.
— Menos intervenção na Petrobras e no preço dos derivados do petróleo é o que se espera —diz.
Assim como Guedes e o futuro presidente do BNDES, Joaquim Levy, Castello Branco tem formação na Universidade de Chicago. Já ocupou cargos no Banco Central e na Vale. Também fez parte do conselho de administração da Petrobras, de 2015 a 2016. Atualmente, é professor da Fundação Getulio Vargas.
Monteiro é cotado para presidir Banco do Brasil
As apostas iniciais no mercado financeiro para a presidência da Petrobras recaíam sobre o atual comandante da estatal, Ivan Monteiro, visto com simpatia pela equipe econômica do futuro governo.
Ele teria pedido para deixar o posto, alegando que sua missão à frente da companhia está concluída, embora permaneça até o final de dezembro.
Monteiro deixará a Petrobras, mas deverá ter cargo de destaque na equipe de Paulo Guedes. Seu nome é apontado como o mais forte para comandar o Banco do Brasil (BB), onde já foi vice-presidente de Gestão Financeira e de Relações com Investidores entre 2009 e 2015 – ele é da carreira da estatal.
Como o futuro Ministério da Economia irá agregar as funções hoje exercidas por três pastas distintas, a expectativa é de que cada um dos setores ganhe uma secretaria executiva. Ainda não há indicações para os ocupantes das secretarias da Fazenda e da Indústria. O Planejamento poderá ter o atual ministro, Esteves Colnago, à frente.
A Secretaria da Previdência, que responderia diretamente à Fazenda, poderá seguir sendo comandada por Marcelo Caetano. Ele participou ativamente das articulações para a reforma da Previdência proposta pelo presidente Michel Temer e atua na transição de governo.
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