Outono pode marcar transição para fenômeno EL NIÑO
O outono, que começa às 13h57m desta quinta-feira, caracteriza-se como uma estação de transição do calor do verão para o frio do inverno. O grande destaque da estação, contudo, estará a milhares de quilômetros do Rio Grande do Sul. No decorrer do outono, conforme a análise da MetSul, haverá acentuado aquecimento das águas superficiais do Oceano Pacífico, na região equatorial. “Depois de quatro anos com neutralidade ou La Niña, o outono de 2014 pode marcar os estágios iniciais de um episódio de El Niño”, destaca a meteorologista Estael Sias.
A estação começa ainda com condições de neutralidade no Pacífico, ou seja, ausência de El Niño e La Niña. No decorrer do outono, porém, águas muitos mais quentes que a média que avançam de Oeste para Leste abaixo a profundidades de 200 a 300 metros devem emergir na superfície e desencadear um forte aquecimento do Pacífico Equatorial entre os meses de abril e maio, explica Estael. “Se vier a se confirmar um El Niño, os efeitos devem ser mais sentidos no segundo semestre e com muita chuva”, explica Estael. O começo do outono terá frio no Rio Grande do Sul. Já no primeiro fim de semana da estação, uma forte massa de ar frio trará madrugadas com marcas típicas de inverno para o Estado e a possibilidade das primeiras ocorrências de geada do ano. “Isso não significa que o calor fica para trás”, pondera o diretor-geral da MetSul Eugenio Hackbart. Dias quentes são normais em abril e maio e devem ocorrer em 2014. Hackbart recorda os casos de 1964, 1990 e 1992, quando houve dias frios no Estado em março, mas que foram seguidos por dias de calor, em alguns casos até intenso, em abril. Quando há um período quente mais prolongado em maio após dias frios há a ocorrência do chamado veranico de maio, mas ele não ocorre todos os anos. A MetSul explica que o clima não tem um calendário perfeito e que o maior exemplo é a chegada de condições outonais mais cedo neste mês de março após o janeiro e o fevereiro escaldantes. Historicamente, contudo, o outono possui três períodos. No primeiro, até o fim da primeira quinzena de abril, costumam prevalecer as marcas mais elevadas nos termômetros com períodos esporádicos de calor mais forte. Na segunda metade de abril se dá o segundo, quando o ingresso de ar polar já provoca temperatura mais baixa. As mínimas, em alguns dias, já se aproximam de 0ºC nos Aparados da Serra. Este período perdura até a metade de maio, quando tem início o terceiro com características climáticas já próximas daquelas observadas no inverno. É justamente na segunda quinzena de maio, apesar do calendário ainda indicar outono, que tem início o chamado \\\\\\\”inverno climático\\\\\\\” com temperatura média menor e aumento significativo no número de dias com geada. Comum no outono é a ocorrência de bruscas mudanças de temperatura. “Muitas vezes na estação frentes frias avançam e as marcas nos termômetros que podem estar acima de 30ºC no Rio Grande do Sul imediatamente antes da chegada da frente podem cair para valores entre 0ºC e 10ºC em poucas horas”, destaca a meteorologista Estael Sias. Estas mudanças não raro são acompanhadas de vento forte de Oeste, do tipo Minuano. O vento forte costuma vir com ciclones extratropicais (sistemas de baixa pressão), fenômeno que se torna mais freqüente a partir do outono e que impulsiona o ar polar para o Sul do Brasil. As rajadas costumam variar, em média, entre 50 e 100 km/h, dependendo do posicionamento do sistema de baixa pressão. Em alguns casos mais extremos, as rajadas ultrapassam 100 km/h no Sul e no Leste gaúcho com fortes ressacas na costa. Outra marca do outono é a grande diferença de temperatura da noite pro dia. Trata-se de um dos períodos do ano com maior amplitude térmica e que também proporciona um aumento nos dias de nevoeiro, especialmente a partir de maio. Com freqüência, sob condições de céu limpo e ar seco, a temperatura pode variar até 20ºC ou mais no mesmo dia, o que força o uso de roupas mais pesadas no começo da manhã e vestuário mais leve no período da tarde.O outono marca também a expectativa sobre a ocorrência de neve no Rio Grande do Sul. Apesar de flocos já terem caído em abril no Sul do Brasil (1999), é a partir de maio que estatisticamente é muito maior a chance de se dar o primeiro registro de neve, mas só é possível prever o fenômeno dias antes. O outono caracteriza-se ainda por mudança no regime da chuva. Enquanto no verão as precipitações se originam mais de nuvens carregadas que se formam pelo calor e a umidade alta, a partir do outono a chuva tem como causa principal a passagem de frentes frias e centros de baixa pressão. Em junho, não raro, se produz a atuação de frentes quentes, muito menos comuns aqui que as frentes frias. O outono é a época do ano com menor freqüência de temporais no território gaúcho, mas tempestades ocorrem, sobretudo com frentes frias de forte intensidade antecedidas por ar quente e vento Norte, quando é alto o risco de vendavais. Marca deste outono de 2014 deverá ser a tradicional variabilidade térmica (alternância de dias quentes e frios), antecipa a MetSul. Haverá um maior número de dias com temperatura alta durante abril, mas no decorrer do mês é alta a probabilidade de algumas madrugadas frias. Já em maio são esperadas erupções de ar polar mais fortes, típicas de inverno, e que em alguns casos podem ser até intensas, o que se repetirá em junho, mês que em grande parte transcorre no outono, mas que climaticamente faz parte do auge do inverno.
Quanto à chuva, a expectativa da MetSul é que haja alternância de períodos de tempo seco com outros em que pode chover bastante em algumas regiões em curto período. Não se espera uma estação que seja predominantemente seca ou chuvosa, mas as ocorrências de chuva vão ser mais regulares, especialmente na Metade Norte que terá uma maior propensão a precipitações acima da média. Na segunda metade da estação começa a aumentar o risco de episódios de chuva excessiva no Estado que podem levar a cheias de rios.